sexta-feira, 12 de julho de 2013

Cinquenta tons de cinza?




Calma, você não entrou no blog errado, o post não é erótico e não vim aqui fazer resenha do livro! É que simplesmente falo muito sobre pensamentos e atitudes dicotômicas e é exatamente deste assunto que vou falar hoje.

Difícil alguém que nunca tenha ouvido, depois de um final de semana de fartura, churrasco, pizzada, festa, a seguinte frase “amanhã (segunda-feira, claro) eu começo o regime!”. Geralmente é aquela mesma pessoa que ou está sempre “de dieta” ou enfia o pé na jaca. Outra cena familiar: “eu não podia comer o bombom, mas como eu já comi um mesmo, vou acabar com a caixa toda!”.

Segundo o dicionário Aurélio, dicotomia é a divisão de um conceito em dois elementos em geral contrários.

Trazendo o conceito para a prática, significa dividir algo complexo, como a alimentação, por exemplo, em 2 simples grupos: o grupo dos alimentos que fazem bem (que emagrecem, que “esculpem músculos”, diet, light, zero...) e o grupo dos alimentos que fazem mal (que engordam, causam doenças e até matam!), sem se preocupar com a quantidade consumida para que o efeito benéfico/deletério ocorra, frequência que determinados alimentos são consumidos, composição da dieta ao longo do dia, etc.

Ao contrário do que se pensa, a dicotomização da alimentação não é nada saudável. Esta divisão é feita aleatoriamente, com base em crenças, mitos, conceitos distorcidos, além de atrelar o prazer de comer à culpa.

Pegando o exemplo citado no início do texto, para aquela pessoa do bombom, o chocolate é um alimento que foi incluído na lista dos “proibidos” pois em algum momento as calorias, açúcares e gorduras tornaram-se mais importantes que o desejo e o prazer de comê-lo. Naturalmente algumas pessoas com algumas doenças precisam reduzir ou retirar certos alimentos da alimentação e são orientadas por profissionais da saúde para este fim. Porém, estamos falando aqui de uma pessoa saudável cuja condição foi autoimposta. Ficará cada vez mais difícil manter a restrição, a vontade de comer chocolate, que antes era pequena, vira uma vontade grande, pode desencadear efeitos físicos e psicológicos adversos e isto pode resultar em um exagero, ou uma compulsão alimentar ou até mesmo levar a um transtorno alimentar, caso ela tenha predisposição genética.

É o famoso “ou 8 ou 80”, “tudo ou nada”, “preto ou branco”. Existe aí no meio do caminho entre o preto e o branco não só 50 tons de cinza (com o perdão do trocadilho!), mas muitas nuances de cinza, uma gama de possibilidades!

O que quero dizer com tudo isso é: nenhum alimento sozinho é culpado de provocar um resultado, seja ele excelente ou catastrófico. Tudo depende da alimentação como um todo. É muito mais fácil voltar a alimentação habitual quando aceitamos que existem desvios. As pessoas saudáveis devem entender que é ok comer um pouco a mais porque o jantar estava particularmente gostoso. Que é interessante experimentar algo “único” (ao invés de “engordativo”), sem neura, numa viagem a um país de cultura diferente à nossa. Normal também é dizer não ao que a gente gosta de vez em quando simplesmente porque estamos satisfeitos ou não estamos afim. É entender que tudo, nas suas devidas porções e frequência, têm um lugar no conceito de alimentação saudável.

Eu ainda experimento um kürtöskalács!... (pão doce típico da Hungria)
O velho caminho do meio...

Referência:

Ferreira, ABH. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. 7 ed. Curitiba: Ed. Positivo; 2008. Dicotomia; p. 317.

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